Especialista diz que as mudanças demográficas e culturais vão mudar a forma como as pessoas encaram as diversas fases da vida. É o fim da pirâmide populacional e a reinvenção da velhice.
Durante muito tempo nos acostumamos com uma vida linear, separada em fases cronologicamente marcadas, com cada etapa claramente definida na vida das pessoas.
Assim, havia a infância, idade de brincar, a juventude, idade de estudar, a fase adulta, idade de trabalhar, a velhice, a idade de aposentar e pouco tempo depois a idade de se despedir da vida.
Só que o aumento na longevidade, os avanços na medicina e as mudanças tecnológicas e culturais estão mudando por completo esse panorama.
O IBGE estima em que o número de idosos no Brasil triplicará num espaço muito curto de tempo, e a expectativa de vida, que já foi de menos de 40 anos, breve rondará os 80.
Segundo Alexandre Correa Lima, professor da FGV e especialista na Economia da Longevidade, assim como mudanças tecnológicas disruptivas, teremos que nos adaptar a uma demografia disruptiva:
“Pela primeira vez na história da humanidade teremos pirâmides populacionais que não se parecerão com pirâmides, porque a base de jovens estará cada vez menor e o topo de pessoas mais velhas estará cada vez maior. É isso trará profundos impactos na economia, na sociedade e na cultura”.
Recente pesquisa divulgada pelo Datafolha mostra que 9 em cada 10 brasileiros acha que existe preconceito contra os idosos no país.
“A visão que a sociedade tem da velhice ainda é um bocado estereotipada, associada a doenças, perda de capacidade física e intelectual, debilidade. E ainda que isso possa ser verdade em alguma medida, vale dizer que as pessoas estão envelhecendo com cada vez mais saúde e doença não é exclusividade de nenhuma idade. É preciso compreender a velhice em toda a sua complexidade e nuances. À medida que o tempo passa, as pessoas passam a incorporar mais traços próprios de sua biografia de vida, de tal modo que categorizar pessoas acima de X anos como um único segmento social ou de mercado, é de uma miopia inominável”, afirma Alexandre Correa, que fundou um portal para discutir o que chama de Revolução Prateada.
Segundo ele, haverá uma verdadeira reinvenção da velhice.
“Não se trata apenas de mais anos de vida, mas sobretudo de mais VIDA nos anos. No futuro não fará mais sentido compartimentar as fases da vida, assim como hoje em dia não tem cabimento você falar em concluir os estudos, por exemplo, porque num mundo em constante mutação você deverá estudar para sempre. E com isso acaba a vida separada em fases estanques. Você deverá estudar por ciclos muito mais longos e sua vida laboral será mais extensa também. Ao mesmo tempo, acho que poderemos ter aposentadorias temporárias, como muita gente já faz com os anos sabáticos, para repensar a vida ou reposicionar a carreira, E sobretudo, teremos uma velhice mais ativa. Ninguém veste o pijama e passa a tomar sopa no dia seguinte aos 60 anos. Aposentadoria vem de aposento, mas essas pessoas não querem ficar trancafiadas num aposento. Elas continuam ativas, física e intelectualmente, querem contribuir com o mundo e se sentir úteis. Querem continuar tendo protagonismo, amando, fazendo sexo, tendo sonhos, projetos de futuro, vivendo”.
Ninguém sabe ao certo como será, porque são mudanças que ainda não experimentamos em outras fases da nossa história, mas certamente será um bocado diferente do mundo que experimentamos até hoje, afirma Alexandre.
*Texto originalmente escrito pelo Palestrante Alexandre Correa Lima