Você já deve ter ouvido falar que quanto maior o risco do investimento, maior é a possibilidade de retorno. Também já ouviu que investimentos de maior risco são os típicos investimentos de longo prazo. E também já deve ter se assustado com notícias de perdas em diversos mercados considerados como de risco, como imóveis, ações, commodities e afins.
Uma questão que aflige investidores iniciantes é: se investimentos de risco podem trazer perdas no curto prazo, quanto prazo será necessário para diluir perdas desse tipo. Ou, haverá uma estimativa de tempo que permita recuperar qualquer perda registrada em investimentos de risco? É a essa questão que pretendo responder com esse texto.
Longo prazo não é, necessariamente, muito tempo
Quando o assunto é “investimentos de longo prazo”, um dos questionamentos inevitáveis é: “quanto é longo prazo?”. É muito comum ouvir falar, por exemplo, que ações são um bom investimento no longo prazo, assim como também se ouve dizer que investir em um lote de terras pode dar bons resultados no longo prazo. Apesar de aparentemente serem orientações idênticas, a interpretação para ações é diferente daquela para terrenos. Eu diria que, enquanto as ações são investimentos de longo prazo, terrenos tendem a ser investimentos de prazo longo.
Se você comprar terras em uma cidade do interior com bom potencial de crescimento, deve estar ciente de que o valor de seus investimentos não mudará significativamente tão cedo, a não ser que você tenha alguma informação privilegiada sobre obras de desenvolvimento. O aumento de valor dependerá da implantação de infra-estrutura, urbanização da região e desenvolvimento do município em que se encontram suas terras. Se o desenvolvimento demorar a surgir, o prazo para perceber o aumento do valor de seu terreno pode ser bastante longo. Por outro lado, dificilmente se observará perdas sensíveis de valor, a não ser que instalem um presídio no terreno vizinho ao seu. O risco do investimento não é muito significativo.
Já quem ouve falar que ações são investimentos de longo prazo deve ficar um tanto confuso ou indevidamente entusiasmado ao notar que, por exemplo, o Índice Bovespa pode se valorizar em mais de 20, 50, ou até 100% durante um período de doze meses. Se é de longo prazo, como se explica tamanho ganho em tão curto espaço de tempo? Na verdade, enquanto é praticamente certo que seus ganhos com terrenos só aparecerão depois de muito tempo, nos investimentos em renda variável é impossível garantir se você ganhará muito ou pouco – ou até se perderá dinheiro – nos próximos meses.
O valor varia com o cenário
Nas projeções de rentabilidades que faço para meus alunos, suponho uma estimativa de ganhos médios ao longo de vários anos. Quando me questionam sobre minha previsão para os ganhos com ações para os próximos doze meses, a melhor resposta que tenho é “não sei”. Não dá para saber. Posso chutar uma estimativa, mas eu mesmo não confio neste chute. A valorização das ações não depende apenas do sucesso da empresa, nem do sucesso da economia, nem da paz no mundo. Depende também do humor dos investidores, como mostrou a última crise, com a fuga de capitais do Brasil causada pelas incertezas com a politica e com a governabilidade no país. Quem não teve urgência para usar seus recursos e manteve suas posições espera recuperar paulatinamente suas perdas. Especuladores, que vivem de fazer apostas contra ou a favor dos movimentos de sobe e desce dos índices, lucram com a turbulência – fazendo ganhos mesmo quando um índice mostra perdas.
Recomendação é pela prudência
Depois de crises, as perspectivas podem ser otimistas para as ações, mas, mesmo assim, se você pensa em investir em fundos de renda variável seus recursos, minha orientação é que o faça somente se puder manter os investimentos por vários meses, ou seja, que o faça com uma visão de longo prazo. O motivo desta recomendação é a base de um investimento de risco: para assumir riscos consideráveis, você precisa de desprendimento em relação ao dinheiro. Cuidado para não confundir com desapego (ou “topar perder”). O que quero dizer com desprendimento é simplesmente que você não deve ter compromissos com data marcada para utilizar os recursos que são investidos em ativos de risco.
A título de exemplo, imagine um casal que tem casamento marcado para o final do próximo ano. Apesar de terem vários meses pela frente, a recomendação de investimentos é pela conservadora renda fixa, pois cada centavo ganho terá uma utilidade bastante definida em uma data que se aproxima. Por outro lado, se um casal pensa apenas em fazer uma bela viagem ao final do próximo ano, não é imprudente recomendar que os recursos sejam investidos em ações ou fundos multimercado. Se tiverem ganhos significativos, poderão viajar antes do planejado, ao atingir a meta do orçamento de viagem. Porém, se a bolsa despencar antes que eles resgatem seus recursos, terão plenas condições de adiar por alguns meses seu sonho de viajar. Os planos podem se ajustar. Esse é o significado de desprendimento.
Da mesma forma, se a reserva financeira para a faculdade de seus filhos está em uma carteira de ações, sugiro que, ao perceber sensíveis altas na bolsa quando estiver a menos de dois anos de seu objetivo, você se prepare para resgatar os recursos e alocá-los em renda fixa. Afinal, acredito que você não se sentirá confortável em pedir a seu filho que adie por um ano o vestibular, só para dar chance da bolsa se recuperar, concorda?
É por esta percepção que mesmo investimentos de longo prazo podem dar bons resultados em um curto período de tempo. Isso só acontece porque não são investimentos de prazo longo, mas sim investimentos de risco.
* Texto retirado do blog do Gustavo Cerbasi e reproduzido aqui no Clube do Palestrante.
Foto de capa: Angel Ceballos