Olá, querido amigo e querida amiga.
Quando ouvimos alguém falando de investimentos, o que nos vem logo à cabeça? Aplicações financeiras, poupança, fundos, bancos, bolsa de valores… Dinheiro, certo?
Consequentemente, pensar nisso faz a grande maioria das pessoas sentir aquela ansiedade, aquela preocupação com o futuro, com o salário (ou a falta dele) no fim do mês, com as contas a pagar, as compras no supermercado, os presentes ou a festa que queremos dar, a viagem que planejamos fazer.
É basicamente para isso que se investe o dinheiro. Para gastá-lo. Quem investe mais fica mais rico, a sociedade nos diz. Nem sempre isso é verdade. Antes de investir essa energia em poupar dinheiro, em guardar dinheiro, para depois gastar, nos esquecemos de que temos outra riqueza que já herdamos, desde sempre.
Quanto ouvimos as pessoas falando sobre investir tempo, investir atenção, carinho, amor? Quase nada. E essas riquezas são imensuráveis – em dois sentidos: elas não se podem medir, e elas existem em imensa quantidade.
Sim, é possível medir tempo; mas tempo gasto com amigos, com estudos, em família, em boas ações, bons momentos, não é o tempo do relógio. É o tempo da alma, e esse não se mede em segundos, mas em pulsações.
É possível medir a atenção que se dá ao filho: 10 minutos, quando se chega em casa; 3 minutos, durante os comerciais do telejornal; 15 minutos, no intervalo do jogo; 20 minutos, no carro, na volta para casa. Mas a qualidade da atenção que dispensamos a quem nos é caro – e principalmente a atenção que investimos a quem nem sequer conhecemos – essa é a imensurável.
Durante nossos afazeres diários, tratamos o tempo como inimigo, como um obstáculo que nos impede de atingir nossas metas. Não entregamos um “obrigado” ao rapaz que entrega panfletos no semáforo, não agradecemos pela oferta de um serviço que não nos interessa naquele momento (e às vezes nem pelo serviço feito, devemos reconhecer), não seguramos o passo para dar frente àquele que vai com mais pressa, porque está atrasado. Afinal, “que saísse de casa mais cedo”, pensamos. Mas nos esquecemos de quando precisamos que essa gentileza venha do outro. E dessa vez não nos investimos em empatia.
Um homem sábio nos deixou uma lição há centenas de anos – mas até essa lição foi aprendida por poucos. O ensinamento em questão carrega toda essa riqueza da qual dispomos, mas que não conseguimos entregar a nós mesmos e nem ao outros.
Temos severa dificuldade de admitir que poderíamos ter oferecido mais ao outro; ao mesmo tempo, achamos que guardar tudo o que temos só para nosso uso é ser rico. Não há carinho melhor do que aquele recebido de quem nos ama. Não há tempo mais agradável do que aquele gasto com as coisas que trazem recompensas para o coração. Nada paga a atenção que recebemos naquele momento difícil, quando temos algo a dizer e ninguém nos dá ouvidos.
O amor que temos a dar aos outros está guardado em nós, mas normalmente só o colocamos a disposição de nós mesmos. Assim como investimos o dinheiro primeiramente em presentes para nós mesmos (gastamos com o outro só depois que já nos sentimos satisfeitos), aguardamos o dia em que nos sentiremos satisfatoriamente amados e respeitados para que possamos verdadeiramente amar e respeitar o outro.
O amor que temos a dar aos outros está guardado em nós, mas esse é o mesmo amor que já deveria estar sendo gasto com o outro. Pois o outro seremos nós, quando precisarmos furar a fila num momento de urgência, e pediremos empatia aos que estão na frente. Será que investimos em empatia, para entregá-la aos que estão atrás?
Pense nisso.
* Texto escrito por Augusto Cury, publicado originalmente no portal AGE e reproduzido aqui no Clube do Palestrante.
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