A Síndrome de Burnout foi incluída para a próxima edição da Classificação Internacional de Doenças, CID-11, que entrou em vigor em 1 de janeiro de 2022. Na CID-11, a SB não está caracterizada como doença, e sim como um “fenômeno ligado ao trabalho”, e identifica três principais acometimentos:
Esgotamento físico e mental com sentimentos de exaustão:
O termo “burnout” refere-se a uma liquidação das forças que o indivíduo possui para criar adaptação ao ambiente de trabalho. Quanto maior for o esforço dispendido para atender as demandas exigidas, maior o prejuízo acumulado em termos de atenção, memória, capacidade cognitiva e agilidade de pensamentos. Por esta razão, as pessoas acometidas pela síndrome de burnout perdem a possibilidade de lembrar de coisas simples do dia-a-dia, ou de tomar decisões banais.
Aumento do distanciamento mental de suas funções, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao próprio trabalho:
pela dificuldade de interagir como antes com as rotinas de seu escopo funcional ou mesmo com as pessoas que trabalham no mesmo ambiente, o indivíduo começa a se embotar emocionalmente (se tornar apático, sem condições de acessar suas respostas emocionais). Isto em parte porque o Sistema Nervoso Central, em processo de auto regulação, vai buscar poupar energia, uma vez que os recursos utilizados para se manter produtivo, representam uma necessidade muito acima do que é possível repor naturalmente. Podem ocorrer sentimentos agressivos para com as pessoas, pelo esgotamento da tolerância e dificuldade de controlar impulsos. Isto se dá pela alta produção de substâncias estressoras, como cortisol e adrenalina, fazendo com que a irritabilidade e a agressividade se tornem mais visíveis, haja vista o constante estado de alerta.
Redução da eficácia profissional:
pela perda cognitiva, a produtividade cai visivelmente, apesar do fato de que o indivíduo busque, via de regra, esconder o que lhe está ocorrendo por medo de ser demitido ou repreendido pelos gestores. Não obstante, sua percepção de que seu rendimento laboral está em constante queda, o trabalhador começa um processo de culpa e auto cobrança, pois precisa retomar seu antigo ritmo e capacidade, a fim de saciar sua demanda interna ao se comparar com os demais colegas de trabalho.
O termo “síndrome” se refere a um conjunto de sintomas, e no caso do burnout, ocorre como resultado especificamente a jornadas muito extensas; metas abusivas; falta de política de reconhecimento e remuneração adequadas; dificuldades de relacionamento com os demais membros da equipe e/ou gestores e condições ambientais incompatíveis com as necessidades dos trabalhadores.
Acaba por comprometer diversas áreas da vida do indivíduo além da profissional:
. Social: isolamento pelo desinteresse em fazer coisas que antes lhe davam prazer como passear; viajar, ir a festas ou programas de finais de semana com os amigos;
. Familiar: pelo embotamento emocional e tendência ao isolamento, o indivíduo acometido pelo desânimo e prostração, deixa de interagir com qualidade com seus familiares, ainda que se esforce para continuar mantendo o ritmo habitual;
. Acadêmico: pelo prejuízo cognitivo, comprometimento da atenção, memória e retenção de informações para formação da aprendizagem;
. Afetivo: a queda da libido impacta a vida sexual sensivelmente, trazendo ainda mais perda da capacidade de experimentar o prazer e sentido da vida
Dentre os sintomas da Síndrome de Burnout, destacamos alguns dos mais recorrentes:
Emocionais:
. Irritabilidade
. Cansaço físico e mental
. Prostração (falta de energia) e indisposição
. Sentimentos de fracasso com alta autocrítica
. Insegurança quanto às capacidades
. Negatividade constante
. Isolamento
. Desatenção
Clínicos/Fisiológicos:
. Enxaqueca persistente
. Hipertensão arterial e taquicardia
. Dores musculares
. Problemas gastrointestinais
. Alterações nos padrões de apetite (inapetência ou aumento)
. Insônia
. Dificuldade de concentração
. Queda na libido
. Formigamento, atordoamento, perda do equilíbrio motor
. Sudorese
. Sensação de desmaio
. Rubor e sensação de calor incompatível com o clima
Em muitos casos, os sintomas emocionais e clínicos se iniciam antes do efetivo diagnóstico da SB. Quadros aparentemente desconectados, como os descritos acima, são tratados isoladamente, até que em determinado momento, a exaustão é tão intensa, que impossibilita a permanência do indivíduo no trabalho.
O afastamento das atividades laborais procura tratar a pessoa longe do ambiente que a adoeceu. Assim, aos poucos, os sintomas de ansiedade e depressão vão entrando em processo de remissão, e clinicamente ocorre a recuperação das condições normais. Apesar de intensos, os sintomas se amenizam com o afastamento, sendo necessário o acompanhamento psicológico e compensação medicamentosa. A pessoa acometida pela SB deve se conscientizar de que o tempo de afastamento das atividades laborais para a efetiva recuperação de suas capacidades, é imprescindível para o sucesso do tratamento.
No Brasil, o Ministério da Saúde não tem os dados fidedignos da incidência da SB, pois não há um mapeamento específico. Sabe-se que os afastamentos por auxílio doença, na comparação entre os anos de 2017 e 2018, pela CID-10 Z73 (problemas relacionados com a organização de seu modo de vida – Z73.0 = esgotamento) chegou a 114,80%, conforme dados da Secretaria de Especial de Previdência e Trabalho, na comparação entre os anos de 2017 e 2018.
Em uma escala internacional da doença, feita com oito países, os brasileiros ganham de chineses e americanos, só ficando atrás dos japoneses, com 70% da população atingida. Policiais, professores, jornalistas, médicos e enfermeiros estão entre as profissões mais afetadas pela SB.
Se você identificou em seu funcionamento emocional e físico, algumas das características citadas neste texto, procure um profissional da saúde (psicólogo ou psiquiatra), para esclarecer seu diagnóstico e iniciar seu tratamento.
* Texto retirado do blog da Izabella Camargo e reproduzido aqui no Clube do Palestrante.
Foto de capa: Nubelson Fernandes